terça-feira, 26 de maio de 2009

Entrevista: Autismo


Realizámos uma entrevista ao psicólogo Luis Henriques, sobre um dos temas abordados anteriormente, o autismo.

1 - O que entende por Autismo e Sindrome de Asperger?
A perturbação de Asperger é o nome dado ao grupo de problemas que algumas crianças (e adultos) têm quando tentam comunicar com outras pessoas.
Esta perturbação foi identificada em 1944, mas só foi oficialmente reconhecida como critério diagnóstico o DSM-IV em 1994. Como resultado, muitas crianças foram mal diagnosticadas com síndromes como autismo, perturbação obsessivo-compulsiva, etc.
A perturbação de Asperger é o termo aplicado ao mais suave e de alta funcionalidade daquilo que é conhecido como o espectro de desordens pervasivas (presentes e perceptíveis a todo o tempo) de desenvolvimento (espectro do autismo). É caracterizada por desvios e anormalidades em três amplos aspectos do desenvolvimento: interacção social, uso da linguagem para a comunicação e certas características repetitivas ou preservativas sobre um número limitado, porém muito intenso, de interesses.
Apesar de existirem algumas semelhanças com Autismo, as pessoas com perturbação de Asperger geralmente têm elevadas habilidades cognitivas e funções de linguagem normais, se comparadas a outras desordens do espectro do Autismo.
Apesar de poderem ter um extremo comando da linguagem e vocabolário elaborado, estão incapacitadas de o usar em contexto social e geralmente têm um tom monocórdico, com alguma nuance e inflexão na voz.
Crianças com perturbação de Asperger, podem ou não procurar uma interacção social, mas têm sempre dificuldades em interpretar e aprender as capacidades da interacção social e emocional com os outros.

2 - Já teve algum paciente Autista ou Aspie?
Já tivemos e temos crianças Autistas e crianças com perturbação de Asperger.

3 - Quais foram as principais dificuldades com que se deparou?
As maiores dificuldades estão precisamente relacionadas com as características tanto do Autismo como da Perturbação de Asperger, nomeadamente a extrema dificuldade no relacionamento interpessoal e social, os problemas de comunicação verbal e não verbal, a atracção por movimentos e actividades repetitivas e a extrema dificuldade de aceitação nas mudanças de rotina.

4 - Considera o rendimento escolar do Autista ou Aspie dentro da normalidade?
Tanto uns como os outros podem apresentar dificuldades de aprendizagem específicas que podem prejudicar o seu rendimento escolar. No entanto, muitos conseguem fazer o seu curso universitário e ter bom sucesso académico, quando se sentem razoavelmente integrados na sociedade,

5 - De que modo acha que as terapias/intervenções precoces melhoram o desempenho académico do doente?
Qualquer intervenção precoce, com objectivos e estratégias bem definidos melhoram o desempenho académico dos alunos, sejam eles autistas ou não.
Neste caso, uma intervenção precoce pode reduzir o stress parental, pode promover o desenvolvimento da comunicação, das competências sociais, adaptativas, comportamentais e académicas.

6 - Tem conhecimento de muitos destes casos na ilha de Santa Maria?
Temos alguns casos de alunos com Autismo e outros com Perturbação de Asperger.

7 - Sabe se o Autismo está associado a algum problema social ou familias?
As causas do autismo e da Perturbação de Asperger não são ainda totalmente compreendidas. Muitos especialistas acreditam que as alterações do comportamento que constituem a Perturbação de Asperger podem não ser resultantes de uma única causa. Existem ainda alguns estudos que dizem que esta Perturbação é provocada por um conjunto de factores neurobiológicos que afectam o desenvolvimento cerebral, e não ser devida, como se chegou a pensar, à privação de afecto, ou à criança ter crescido num ambiente demasiado austero.

8 - A nível social, considera que estas pessoas vivem socialmente isoladas? Se sim, quem é o responsável por este isolamento?
Pelas suas próprias características, algumas destas pessoas issolam-se no seu mundo, ou vivem no nosso mundo mas à sua maneira. Por isso é que são muitas vezes mal compreendidas ou percebidas como mal-educadas, excêntricas, desajeitadas.
As pessoas que lidam com estas pessoas devem fornecer-lhes a estrutura externa, a organização e a estabilidade que lhes falta.

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